Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Sobre o medo de morrer de desgosto






Já são 6 anos e descubro que tenho que realizar o que não consegui até hoje.
Em 2010, escrevi 4 livros: 3 infantis e um muito particular, que havia começado no ano anterior, nasceu na intenção de ser apenas uma carta, minha à Chavela Vargas, quando tive a certeza que a encontraria pessoalmente. Seria só uma carta explicando como conheci sua música, o por quê de eu estar lá e como ela havia transformado minha vida. Não consegui escrever uma simples carta e sim 22 páginas contando de onde eu vinha e o que queria. Foram 22 páginas de pura expectativa em um relato detalhado de como fui encantada por sua voz.
Claro que foi muita ousadia querer entregar aquelas páginas (que mais tarde se tornaram o primeiro capítulo de um livro que eu só terminaria quando finalmente tivesse o que contar do nosso encontro) devidamente impressas e com capa ilustrada em suas mãos, mas eu não desejei menos que isso.
Estar em novembro de 2009 em Tepoztlán, no 3° Encuentro Cultural foi uma das melhores coisas que aconteceram. Foi tudo tão bonito que acabei voltando com o livro pronto, e foi esse livro que tentei publicar no México e aqui no Brasil, infelizmente, ninguém se interessou. Eu o disponibilizei em uma página da internet para autores independentes sem tiragem mínima, se uma compra é feita, ele imprimem apenas uma cópia, sem custo para o autor. Achei que seria uma oportunidade para divulgar meu trabalho, mas poucos amigos se interessaram.
Esse livro se chama "Siga o seu coração: busque Chavela Vargas!" é tão especial para mim que acabei criando a versão infantil, ilustrada por mim da maneira que eu desejei que ficasse, é uma linda história e é, sem dúvida, o meu preferido.
Historias como essa não se encontra na sessão de livros infantis. Ainda não. Já perdi a conta de quantas recusas tive de editoras que nem sequer leram a história que pode ser o novo "Pequeno Príncipe" do século XXI. Grandes empresas também perdem grandes oportunidades...
Criei outras duas historias infantis, e publiquei uma delas "Catarina e as baratinhas"com uma colega de estudo, o que me deixou imensamente feliz.
Escrevi poesias, desenhei, criei, pintei, estudei, estudei, estudei,  fiz um monte de coisa e tentei criar oportunidades para ter o meu trabalho reconhecido, mas não consegui. Tenho um monte de história engavetada,  exemplares dos livros independentes impressos (na verdade é um livro com versões em português e em espanhol), que eu mesma comprei para revender por aí, mas ninguém se interessou.
Um dos meus maiores medos é morrer de desgosto. Morrer com todas as minhas grandes ideias desconhecidas, sem divulgação, sem leitores, sem publicação. Sei que não são ideias natimortas, mas eu já não sei mais o que fazer com elas. As minhas ideias não pagam minhas contas, não me levam a lugar algum. Por mais que eu deseje do fundo do meu coração e procure divulgar, eu não consigo sair da estaca zero. Tenho medo de morrer de desgosto e  minha família decidir de alguma maneira publicar as minhas histórias e elas se tornarem um sucesso. Depois de morta não fará diferença para mim. Esse é o meu medo. Morrer sem ter tido oportunidades reais. Me conformar não é uma opção.
Estou à espera de um milagre, porque o que estava ao meu alcance, fiz.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Descarte e viva

Início de ano é sempre bom fazer um balanço do ano anterior para focar melhor nos planos e conquistas do ano novo. Fazer uma arrumação nos armários é uma boa para tirar o que não se usa, o que já não é útil e que pode servir para outras pessoas. Hoje mesmo, separei dezenas de roupas e objetos e fiz um cadastro em um aplicativo de trocas/vendas. De um tempo pra cá, diminuí muito o consumo em geral, não apenas pela falta de grana, mas, principalmente, por perceber que o consumo excessivo é banal demais pra mim e não faz mais sentido. Não preciso abarrotar meus armários para me sentir bem, mesmo que eles continuem um pouco longe do que eu entenda por "apenas o básico". Sei que estou no caminho certo há um bom tempo e me sinto muito bem fazendo esses "rapas".
Um exemplo prático dessa minha teoria: tenho duas toalhas e três trocas de lençol, não preciso mais do que isso. Tenho dois pijamas bem quentes e três para o verão e dois para meia estação. Parece pouco, mas não é, já que são 7 peças. Camisolas não tenho porque não gosto...coisa minha...
Todo o resto de vestimentas acho que tenho de mais e é esse número que tento diminuir sempre. Quando entra uma peça nova, precisa sair 2, pelo menos! Nesta última semana entraram 3 peças novas e estão saindo 25. É esse meu objetivo, ter cada ver menos coisas.
Atualmente, prefiro ganhar coisas que acabem de presente. Coisas que acabam, a meu ver, são produtos de higiene: xampu, condicionador, sabonete, creme, óleo de banho, etc; acabam e ainda têm embalagens recicláveis!
Ter menos roupas significa mais espaço livre, mais ar circulando, mais liberdade. Sempre penso que no caso de um incêndio ou algo parecido, não seriam as roupas que eu salvaria, então há elementos mais importante do que elas, no caso, animais e plantas (humanos acabam se salvando de alguma maneira, outros tipos de vida não).
Descartei sentimentos ruins também, pessoas interesseiras e mentirosas, pessoas nocivas e falsas, e é justamente aqui que eu queria chegar.
Neste balanço de ano novo me deparei com minha vida profissional, que atualmente é o artesanato. Crio peças e vendo com uma certa dificuldade, o retorno não é como eu gostaria. Preciso de mais retorno financeiro e não sei como fazer esse número crescer. Ainda pensando em profissão, fiz uma análise dos meus empregos com carteira assinada e todos têm algo em comum: eu tinha um cargo x , desempenhava muito mais do que era esperado para a função e mesmo após mostrar minha capacidade, meu salário era absurdamente menor do que os puxa-saco dos chefes. Pessoas amigas dos caciques já entravam ganhando 5 vezes o meu salário. Meu dissídio era de 100,00 e o deles era mais de 1000,00. Era cobrada, desafiada, desrespeitada porque não sei lamber o saco de chefe, e vejo que isso só fez mal a mim. Vi coisas horrorosas: acusações, assédio moral, mentiras, enganação, falsidade, manipulação, teatro, e os atores sempre se davam bem, prejudicando o próximo, mas sempre se davam bem. Ganhavam muito, conseguiam comprar e ajudar familiares e continuam com suas vidas confortáveis. Eu continuei com meus princípios mas sem recursos para ser uma pessoa independente financeiramente. E eu acho muito triste ler uma vez ou outra sobre "meritocracia", já que só presenciei o mérito de quem soube enganar os outros muito bem. Há pessoas que lutam, que se dedicam, que tentam, de tomam porrada, que querem sumir muitas vezes, que querem desistir e essa tal meritocracia não chega. Nunca achei que a vida fosse justa não, mas daí a beneficiar tanto pessoas inescrupulosas já é demais. É uma observação que fiz nestes dias e não fiquei feliz. Constatei isso apenas olhando pra trás para poder dar uma base pro meu futuro. Viver da maneira como vivi até agora não me deu nada além de sonhos frustados, livros engavetados, diploma mofado e inúmeras tentativas de realizar algo realmente bom para mim. Tentei tudo o que achei amar verdadeiramente e só tive decepções. Pra quê tanta criatividade se ela não pode pagar minhas contas e sonhos? Minha criatividade e desejo de realizar só me trouxeram decepções, porque ninguém realiza nada sozinho. Para se publicar um livro é preciso de alguém te dando um SIM. Para ter um aumento é preciso que alguém diga: - Sim, vamos rever seu salário!; para que se tenha um emprego bom, é preciso que alguém diga um SIM, para passar em um concurso e ser convocado, é preciso estudar muito e que alguém decida que apenas 7 vagas não serão suficientes (sou inteligente, mas não tanto para estar entre os 7 melhores. Isso não é pessimismo, é apenas a realidade); para vender muito artesanato é preciso dizer sim para anúncios e esperar várias SIM EU QUERO ENCOMENDAR....
A conclusão que chego é que preciso de mais SIM em minha vida. Seja para aceitar ou dar uma oportunidade para o meu sucesso profissional. Estarei atenta às oportunidades que criarei e as que simplesmente aparecerão.
Que este ano seja muito produtivo e realmente transformador para a minha vida. E que se eu tiver que aprender a ser sonsa e puxa saco, que eu aprenda de uma vez por todas, porque do jeito que estou já não posso ficar.