Ultimamente tudo parece ter uma vida bem mais curta que há alguns anos,
com exceção da vida humana, todos os bens, serviços, e valores morrem cedo.
Há trinta anos, uma máquina de lavar era pra vida toda, as de hoje são
trocadas a cada cinco anos, isso com muita sorte. O mesmo passa, com as TVs
(cada vez maiores e mais finas, mas que podem deixar uma família inteira na
mão, sem aviso). Carros e apartamentos também. Nada dura como antigamente. Na
casa dos avós, tudo durava a vida toda, e se quebrasse havia uma maneira de
consertar. Mas aí, surgiu a tecnologia e o capitalismo desenfreado, que fazem
as pessoas renovarem guarda-roupas a cada seis meses, com a mesma rapidez com
que trocam de aparelho celular. Essa rotatividade se alastra por diversos
ambientes da casa e é cada vez mais comum com pessoas.
Pessoas também têm prazo de validade. Ou melhor dizendo (e pior
entendendo) se cada pessoa não utiliza um tempo estimado pela sociedade para
fazer coisas como o primeiro beijo, a primeira namorada, a faculdade, casar,
ter filhos e tantas outras que podem passar com uma pessoa ela é considerada
defasada. Ora cedo, ora tarde demais para isso e aquilo.
Com essa rapidez, o valor humano perde espaço, assim como o respeito
entre seus semelhantes. Nem citarei os de diferentes espécies (entenda como
tipos de vida diversos) porque poucos se interessariam.
No último domingo vi a senhora mais velha da rua ir embora. A senhora de
95 anos, com boa saúde para tanta idade, teve que se mudar devido à impossibilidade
de ficar sozinha. Teve que deixar para trás sua pequena casa bem cuidada, suas
plantas e seus pertences que hoje estão na calçada esperando alguém que os
leve. Setenta anos vivendo no mesmo lugar, com as mesmas coisas tiveram que ser
deixadas para trás pela necessidade. Será? Não cabe a mim julgar a atitude
alheia, porém, tudo que teve um valor inestimável àquela senhora acabou. Esse
foi só um caso de tantos outros que conheço. Onde estão os valores humanos, o
respeito e até mesmo a moral de cada ser? Agora pareço estar julgando... mas me
coloco no lugar dela. Recomeçar a vida é difícil em qualquer circunstância, e
aos 95 anos? Não vejo recomeço, só o fim.
Construir um mundo de paz e respeito não deveria ser démodé. Talvez esse
olhar “vintage” sobre a vida retorne em alguns anos. Assim como tantas outras
que voltaram, ou ficarão para sempre na memória.
Hoje,
a pomba com fome não apareceu e as flores da casa da senhora não foram
varridas. Não estão no montinho de folhas onde ficaram as últimas décadas.
Estão espalhadas pela rua onde buscam a sua cuidadosa cuidadora.
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