Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Entre o sábado e o domingo - Tuti, in memorian

(Texto produzido após alguns relatos ouvidos no domingo, algumas lembranças e um sentimento de inconformismo.)



Elas conseguiram diferenciar a pessoa amiga do corpo que acabavam de ver. Flores brancas e amarelas se destacavam no cetim branco sobre a camisa do seu time. Um corintiano fanático. Mas não foi sempre assim. Há quem diga que se lembra da época em que ele torcia pelo Tricolor! Caminhava, ainda pequeno, de mãos dadas com o pai, às vezes acompanhava sua mãe ou seu avô. Cortavam caminho pela rua rosa apenas. Passados alguns anos, terminou de crescer com a turma da pequena rua. Educado, tinha uma maneira peculiar de falar. Um lindo garoto que se escondia atrás das camisas do time. Fazia a mesma coisa que todos de sua idade. Saía para dançar, mas não bebia.
Seguiu por um caminho diferente, um caminho curto que o levaria a somente dois lugares. Esteve sempre lá, mesmo quando a vida de cada um tomou rumos distintos. Ficava na entrada da rua conversando com os amigos que passavam. Se fez presente até mesmo nos quase 10 anos em que deixou de presenciar o crescimento do bairro, momento esse em que chegou a uma das partes do seu caminho. Se fortaleceu na distância para não se abater pela realidade que o cercava. Sua galera continuou lá.
Quando voltou para sua vida e companhias muita coisa já havia mudado. A amizade não.
Na contradição do seu comportamento vivia duas vidas: uma comum, fazendo até curso de culinária, outra sombria que não mostrava aos amigos. Um jovem como tantos outros, que no curso da vida se deparou com um mundo escuro. Era lá que ele passava grande parte do seu tempo.
Na madrugada do último domingo de agosto o levaram ao segundo caminho, justamente aquele que não possui volta. Ele não viu seu time perder do maior rival. Nem verá mais. Nem vitórias, nem empates.
Levou no peito o timão estampado na camisa branca e no corpo um objeto dourado.
Só seus amigos foram se despedir na sala fria e vazia. Já não serão os mesmos de antes, mas sempre reconhecerão a timidez daquele olhar fechado do amigo perdido, nunca o "cara" executado em circunstâncias sombrias.

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