Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

domingo, 31 de maio de 2009

O amor puro e verdadeiro




Conheci o amor puro e verdadeiro aos 6 anos. Estava indo para a escolinha levada pela minha mãe quando ao passarmos pela calçada da Sabesp vimos uma pequena gatinha preta e branca com o focinho mais perfeito que já vi.
Com o olhar assustado e penetrante, ela pediu para que a levássemos de lá. E assim fizemos.
Demos remédio infantil pra ela porque tinha nos olhos uma secreção.
Ainda morávamos no apartamento e ainda lembro dos arranhões na parte de trás dos meus pés. Brincávamos de pega-pega, ela corria e para me "pegar" arranhava meus pés.
Quando eu ia à feira com minha mãe, levava meu carrinho de feira amarelo e branco e dentro dele, ela: a Duqueza! Não fizemos muitas vezes isso porque ela cresceu rápido e meu carrinho já não aguentava o peso.
Ela só comia carne moída e tomava leite.
Não lembro onde ela dormia, mas ela fazia parte do meu mundo. Ao voltar da escola à procurava, então podia fazer todas os outras tarefas.
Mudamos para a casa da minha avó, e lá foi ela. Entrei na primeira série, terminei o ensino fundamental e ela cresceu comigo.
A Duqueza era linda. Tinha longos pelos. A parte de cima do seu corpo era preto, e parte de baixo branca. Todas as extremidades eram brancas: as patas e a pontinha da cauda. O queixo dela era uma bolinha preta, tão perfeita que parecia que tinha sido desenhada com um compasso. Lindos olhos amarelos. Olhar sereno, sempre. Nas patas as pequenas almofadinhas (que são os "dedos" dos gatos) eram rosa e preto, algumas meio a meio.
Ela teve alguns filhotes até a castrarmos, mas ela foi a única que sempre ficou conosco.
Ela encheu minha vida de alegria por 11 anos e eu amei aquela gata por cada dia da minha vida.
Em 1996, um acidente com um produto químico a deixou muito doente.
Eu rezei tanto. E pedi tanto para que ela melhorasse, para que ela ficasse comigo.
Ela sofreu por duas semanas e eu tinha certeza que ela iria melhorar.
No dia 21 de agosto de 1996, eu voltei do colégio, estava no segundo ano, e fui vê-la.
Ela já não se mexia, estava anêmica, mas ainda olhava para mim.
A peguei no colo e fiquei olhando para ela.
Ela também olhava bem nos meus olhos, com o mesmo olhar penetrante que conheci 11 anos antes, mas eles já não tinham mais medo. Sem dizer uma única palavra eu disse que a amava. Ela disse que sabia e que era para eu deixá-la partir.
Eu não deixei, mas já não pedi para Deus para que ela ficasse comigo por causa do meu amor. Pedi para que o sofrimento dela acabasse.
Minutos depois, ainda me olhando, ela começou a entrar em coma. E horas mais tarde ela se foi.
Como eu sofri. E ainda morro de saudade dela.
Trêse anos se passaram e ainda choro copiosamente quando penso naquele 21 de agosto de 96.
Sei que um dia eu voltarei a vê-la.
Dizem que quando morremos um anjo vem nos buscar e esse anjo tem um rosto conhecido para que não tenhamos medo da morte.
Eu sei que a Duqueza vem me buscar um dia. Só assim para essa saudade não doer tanto.

"Se me dizes que sim, faço-te sorrir de alegria e crio para ti um paraíso no qual te esperar."


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sábado, 30 de maio de 2009

Despertar


Despertamos todas as manhãs para viver um dia desconhecido. Muitas vezes sabemos o que temos que fazer, com quem falar, mas pequenas surpresas nos aguardam a cada novo dia.Às vezes um reencontro, uma nova amizade, uma nova música.
E quando despertamos para o que nos faz feliz?
A felicidade sempre está ao nosso lado, em cada pequena tarefa do dia que nos trás realização.
Felicidade é o que me faz bem.
Fico feliz quando ouço Chavela Vargas, quando vou dançar salsa, quando tomo sorvete de algodão doce. Às vezes minha felicidade é brincar com o Miguel, meu cachorro loirinho, ou apertar a barriga da Catarina, minha gatinha barrigudinha. Outras, é estar com uma pessoa que me faça crescer.
Graças a Deus pude retomar minhas amizades. Com elas posso aprender cada dia mais sobre a vida.
Como pude estar tanto tempo longe?
As lindas histórias de amor contadas pela Márcia, a vontade da Ivani em ser uma pessoa melhor e desvendar os segredos do corpo e da mente, todas as risadas e experiência da Drix Super Luxuosa (ela vai adorar...rsrsrs), as conversas filosóficas com o Gil, meus planos em conhecer Pernambuco só surgiram quando conheci o bom humor em pessoa: Fernanda Rêgo.
Minhas angústias e palhaçadas, como eu não contava para a Silvia?
Minhas roupas personalisadas só eram possíveis quando contava meus sonhos para a Edite.
Ainda tenho saudade das baladas com a Flavi e das longas conversas com o Bruno, que sempre de longe estava presente. E de fumar cachimbo com o Cláudio e ouvi-lo falar sobre budismo e Jesus.
Levar o Snapple pro show do Steve Vai, depois de comer meu Mc Potato.
Tenho que ligar pro Wil e pra Thais e saber do Ian! Farei o mais rápido possível!
Como estive tantos meses sem eles?
Eu não sei, mas minha vida estava sem cor. Isso posso garantir.
Eu despertei a tempo de poder reencontrar cada uma dessas pessoas, que me fazem tão bem.
Sou feliz por ter tantas pessoas iluminadas ao meu redor.
Obrigada por me receberem depois de tanto tempo.
E que eu possa aprender cada dia mais com cada um de vocês.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Medos


Li algo sobre os 4 medos básicos do ser humano. São eles:
  • medo do abandono;
  • medo de perder;
  • medo de enfrentar;
  • medo da morte.

Nunca tive medo de morrer. Mas, refletindo sobre os outros três, o medo de enfrentar fazia um pouco de sentido, mesmo eu me achado corajosa demais, às vezes eu deixava de encarar a realidade de frente, muitas vezes me acomodando.

Abandono e perda são muito próximos, um diz respeito a se sentir mal pela ação de alguém, o outro a despertar esse sentimento através das próprias ações. Ambos estão relacionados à culpa.

Culpa por não amar, culpa por não ser amado.Tive essa visão por muitos anos da minha vida, mas tantas coisas temos e não deveríamos ter. E mesmo sabendo desta confusão do destino, insistimos em manter uma relação nociva (seja qual for) por mero orgulho ou carência.

Por sua vez, orgulho e carência são sentimentos típicos de uma pessoa que quer que a vida ceda à seus caprichos. Por que não deixamos as coisas acontecerem naturalmente? Se não saem como queríamos, por que sofremos tanto?

Porque nos apegamos! Nos acostumamos e temos medo de levar a "infeliz" vida anterior. A vidinha de sempre. Temos medo de sofrer por algo que não existe mais, e sofremos com a possibilidade de um futuro que não podemos controlar.

Um ciclo que nunca acaba.

A reforma interna que estou fazendo nesta mente que vos escreve está construindo toda essa visão que eu não tinha antes. Há um mês eu não enxergava isso.

Estou aplicando a teoria U no dia a dia. A teoria U é ampliar a visão para o todo que antes era somente focada no indivíduo. Ela se chama "U" porque as ações que dela provêm seguem do topo, descem, permanecem um determinado tempo e voltam a subir , desenhando a letra U. Ela é o elo entre o pensar e o agir.

Quando suspendemos todos os julgamentos, deixamos de ver como vemos e passamos a sentir a realidade à partir desse novo olhar. Mudamos a percepção e redirecionamos nosso olhar para começarmos a ver a partir do todo.

A base da teoria U está na curva. Deixar ir para deixar vir.Temos que nos desprender do "eu" e nos transformar. Recriando a visão no agora e focando no todo para podermos presenciar o que está por vir.

Uma vez cristalizada essa visão e recriada, já podemos visualizar o que está para emergir: a incorporação do novo.

Essa transformação é o novo olhar.

Olhar para dentro de mim para poder compreender você. É o que estou fazendo. Tento não julgar para poder ver a vida como se estivesse fora do meu corpo, assim posso entender suas ações sem julgá-lo pelas ações que eu teria se eu pudesse estar no seu corpo.

Um exercício diário, um longo trabalho de consciência, paciência e dedicação.

Infelizmente um erro que cometi foi o que desencadeou esse crescimento. Só assim pude juntar todas essas peças que estavam soltas pela minha mente. Talvez um acerto não me fizesse crescer tanto em tão pouco tempo. Prefiro deixar esse pensamento fluir.

Te deixei ir para me achar. Agora só tenho que me manter ao meu lado.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Mudar de opinião não torna a visão anterior uma mentira. Evoluir é preciso."



Mudar de opinião não significa mudar de sentimento. Esse leva muito mais tempo.

She´s a mistery to me - Roy Orbison



Ela é um mistério para mim.
Cai a escuridão e ela me levará pela mão;
Me levará para alguma terra de crepúsculo;
Onde todos, menos o amor, são cinza
Onde eu posso achar o meu caminho sem ela como meu guia

Cai a noite, eu sou lançado sob o seu feitiço
Vem a luz do dia, nosso paraíso vira o inferno
Sou deixado para queimar. E queimo eternamente
Ela é um mistério para mim,ela é uma garota misteriosa

Na noite de amor palavras se enroscaram em seu cabelo palavras que logo desaparecerão
Um amor tão afiado corta como um chicoteada em meu coração
Palavras me rasgam , ela rasga novamente meu coração ensangüentado
Eu quero correr, ela está me afastando
Um anjo caído chora então eu apenas me dissolvo

Assombrado ao seu lado é a escuridão em seus olhos
Que assim me escraviza,mas se meu amor é cego então eu não quero ver

Ela é um mistério para mim

O desapego é um dos mais importantes ensinamentos budistas


Quando o sol brilha, desfrute-o;
quando a chuva cai, desfrute-a
Todas as coisas nesta vida – deixe que venham e deixe que se vão.
Este é um segredo da vida.

Buda disse que todas as coisas na vida e no mundo estão em constante mutação; por isso, não se torne apegado a elas. Mas não desrespeite ninguem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

This is the end

Há pouco menos de três semanas para a conclusão do meu sofrido e transformador curso de Pós Graduação, gostaria de compartilhar um pouquinho do que era a minha visão de Gestão do Conhecimento uma aula depois da minha "quase" desistência...

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Estou de volta, desta vez a inspiração foi Arnaldo Antunes! (consegui!!!). Sim! Fiz uma música!

Diário de bordo: Aula 16/10/2008 - Debate entre convidados.

“ O curso”

Cassapo
Saldanha
Pontual
Ladislau
Rose
Edson
Organização sem vocação ou sem paixão

E o curso ela ainda cursa

Cartel
Gestão da ignorância
Teoria U
Visão sistêmica
Resistência às transformações
Círculos reflexivos
Livros e livros

E o curso ela ainda cursa

Articulação de interesses
O intangível
Empresa fragmentada
Esquizofrenia da transitoriedade
Quebra de paradigmas
Fragmentação e rede
Che Guevara do conhecimento

E o curso ela ainda cursa
E um curso ainda é pouco...
O curso...
O curso...

Reconhecimento


Todas as horas de estudo, de dedicação a um projeto, todo tempo e dinheiro investidos somem instantâneamente quando mais alguem percebe o esforço.

O momento em que o chão some e o corpo flutua. Os pensamentos fazem o fundo musical para a fala. A frase tão esperada para ser ouvida é dita.
A expectativa, o segundo em que a concretização do sonho acontece. O reconhecimento.

Tudo bem, sei que eu mesma tenho que insistir em meus objetivos e lutar por eles, mas muitas ações não dependem apenas da minha vontade, na verdade uma reação é aguardada.
Viver em sociedade me faz perceber que sou uma pequena parte de um "todo" muito maior, onde cada ser é de fundamental importâcia e tem um papel único nesta imensa rede social.
Eu sozinha, existo para mim. Mas para que eu exista para as pessoas preciso me mostrar, me expor sem medo de errar. Tentar.
Jamais desisto sem tentar. Uma, duas, quantas vezes forem necessárias até se esgotarem as possibilidades.
Não que minha vontade seja mais importante que tudo nessa rede, mas é ela que me faz levantar da cama dia após dia.

Meu objetivo hoje é ser uma pessoa melhor. Em todos os sentidos.
Mais calma, e com a mente aberta para a visão do outro.

Mais consciente.
Nunca deixarei de ser esta Chavelinha que habita este corpo (alvo e sardento). Minha essência será sempre a mesma. Só quero conseguir olhar a vida com uma visão maior do que tenho hoje e poder agir de acordo com esse novo olhar.
Eu reconheço a mim, mas poder ser reconhecida pelo outro é uma consequência dos meus atos.

E para concluir:

"Quanto mais o frágil eu-sujeito se apresenta, mais se apresenta a compaixão. Abre-se espaço para acomodar ou proteger o outro. Em estado de descentramento, o "outro" parece mais próximo. Solidariedade, compaixão, zelo, amor - todas as maneiras de se estar junto - surgem quando o "eu" se desloca. Para mim, esse é o grande presente do universo. Uma vez que não somos sólidos, privados e centralizados, quanto mais formos o que somos, podemos existir ambos: você e eu. Não apenas eu, mas o nós em nós". Francisco Varela

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Las simples cosas


A música que inspirou este blog:


Uno se despide incensiblemente de pequeñas cosas
Lo mismo que un árbol que en tiempo de otoño se queda sin hojas
Que al fin la tristeza es la muerte lenta de las simples cosas
Esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón
Uno vuelve siempre a los viejos sitios donde amó la vida
Y entonces parece como estan de ausentes las cosas queridas

Por eso muchacha no partas ahora soñando el regreso
Que el amor es simple y a las cosas simples las devora el tiempo
Demórate aquí, a la luz mayor de este medio dia
Donde encontrarás con el pan al sol la mesa tendida

Por eso muchacha no partas ahora soñando el regreso que el amor es simple
Y a las cosas simples las devora el tiempo

Uno vuelve siempre a los viejos sitios donde amó
la vida...