Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

terça-feira, 10 de julho de 2012

O preço que pagamos pelos valores que perdemos


Ultimamente tudo parece ter uma vida bem mais curta que há alguns anos, com exceção da vida humana, todos os bens, serviços, e valores morrem cedo.
Há trinta anos, uma máquina de lavar era pra vida toda, as de hoje são trocadas a cada cinco anos, isso com muita sorte. O mesmo passa, com as TVs (cada vez maiores e mais finas, mas que podem deixar uma família inteira na mão, sem aviso). Carros e apartamentos também. Nada dura como antigamente. Na casa dos avós, tudo durava a vida toda, e se quebrasse havia uma maneira de consertar. Mas aí, surgiu a tecnologia e o capitalismo desenfreado, que fazem as pessoas renovarem guarda-roupas a cada seis meses, com a mesma rapidez com que trocam de aparelho celular. Essa rotatividade se alastra por diversos ambientes da casa e é cada vez mais comum com pessoas.
Pessoas também têm prazo de validade. Ou melhor dizendo (e pior entendendo) se cada pessoa não utiliza um tempo estimado pela sociedade para fazer coisas como o primeiro beijo, a primeira namorada, a faculdade, casar, ter filhos e tantas outras que podem passar com uma pessoa ela é considerada defasada. Ora cedo, ora tarde demais para isso e aquilo.
Com essa rapidez, o valor humano perde espaço, assim como o respeito entre seus semelhantes. Nem citarei os de diferentes espécies (entenda como tipos de vida diversos) porque poucos se interessariam.
No último domingo vi a senhora mais velha da rua ir embora. A senhora de 95 anos, com boa saúde para tanta idade, teve que se mudar devido à impossibilidade de ficar sozinha. Teve que deixar para trás sua pequena casa bem cuidada, suas plantas e seus pertences que hoje estão na calçada esperando alguém que os leve. Setenta anos vivendo no mesmo lugar, com as mesmas coisas tiveram que ser deixadas para trás pela necessidade. Será? Não cabe a mim julgar a atitude alheia, porém, tudo que teve um valor inestimável àquela senhora acabou. Esse foi só um caso de tantos outros que conheço. Onde estão os valores humanos, o respeito e até mesmo a moral de cada ser? Agora pareço estar julgando... mas me coloco no lugar dela. Recomeçar a vida é difícil em qualquer circunstância, e aos 95 anos? Não vejo recomeço, só o fim.
Construir um mundo de paz e respeito não deveria ser démodé. Talvez esse olhar “vintage” sobre a vida retorne em alguns anos. Assim como tantas outras que voltaram, ou ficarão para sempre na memória.
Hoje, a pomba com fome não apareceu e as flores da casa da senhora não foram varridas. Não estão no montinho de folhas onde ficaram as últimas décadas. Estão espalhadas pela rua onde buscam a sua cuidadosa cuidadora.

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