Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

terça-feira, 14 de julho de 2009

Miguel


Ele fez 4 anos no início do mês. Há 3 anos exatos, minha mãe havia ido à padaria e viu um cachorro sangrando na nossa rua, ele fugiu quando ela ja tomava as providências para levá-lo ao veterinário. Isso às 06:30 da manhã. Por volta das 11:00 ela me ligou e pediu pra eu procurar esse cachorro e cuidar dele. Eu dei voltas e mais voltas, passei em todas as clínicas veterinárias da regiao e ninguém havia visto o cão. As 16:00 ainda não o tinha achado. E tantas horas para um cão atropelado podem ser fatais. Me desesperei (nunca tinha visto o cão, mas imaginava o sofrimento).Comecei a rezar pra São Francisco, porque eu já não sabia onde procurar. Pedi pra ele me guiar. Saí de casa mentalizando e comecei a andar sem rumo, com uma coleira na mão. Parei de pensar em caminhos e fui apenas andando. Encontrei uns pedreiros e eles disseram que haviam visto o cão há algumas horas. Continuei mentalizando e cheguei numa praça que dava para 4 ruas. Parei, respirei fundo e deixei que meus passos fossem guiados. As ruas estavam vazias. Uma senhora apareceu e perguntei se havia visto um cão naquelas condições. Falou q acabara de ver um cachorro logo a frente. Segui em frente e encontrei o cachorro. Era o mesmo descrito pela minha mãe.Tinha a pata traseira pela metade (dava pra ver o osso e os músculos) sangrava bastante, e seu corpo era coberto por sarna negra (um tipo de sarna incurável que aparece quando o animal esta com a imunidade baixa). Cheguei na frente do cão, e algumas pessoas vieram falar comigo, estavam com pena dele, mas não sabiam o que fazer.Pedi pra uma senhora me arrumar um pano porque eu ia levá-lo ao veterinário. Ela trouxe uma toalha rosa e um outro rapaz falou que nos daria uma carona. Eu estava com medo do cão me morder, afinal estava sofrendo muito. Rezei para que ele ficasse calmo e que eu conseguisse salvá-lo. Joguei a tolha nele e com a ajuda do rapaz, o peguei no colo. Ele não se mexeu.
Esse cachorro de alguma maneira sabia que eu não faria mal a ele e aguentou a dor por tantas horas. Ele nunca tentou me atacar. Um outro cachorro de rua atropelado teria outro tipo de reação. Mas ele era especial. Chegamos na clínica e esse rapaz, o Reinaldo, ficou lá comigo e dividiu as despesas comigo. A veterinária deu 3 injeções, e fez curativo. Eu não tinha como levar o cão para casa, afinal com 4 gatos e um outro cão era impossível. Em comum acordo com minha mãe o levei pra casa da minha avó, que na época estava abandonada. Eu cudiava dele todos os dias. Passava pomada dentro do ferimentos, fazia curativo. A cunhada daquele rapaz era veterinária também e ajudou na primeira etapa, deu umas injeções e curativos. Depois de 1 mês a pata estava totalmente cicatrizada. Só então eu pude começar a tratar a sarna. Ele tomava 1 banho por semana e depois tinha que passar um veneno fortissimo pra acabar com a doença. Não podia secá-lo porque o remédio entraria na corrente sanguinea e o mataria envenenado. Era inverno, eu e o cachorro tomávamos banho e eu sentava ao lado dele até que ele secasse naturalmente. Morríamos de frio juntos. A veterianária falou que ele nao teria mais pelos no local onde a sarna havia se instalado. Durante o tratamento da sarna ele teve uma recaída. OS pelos caíam em poucas horas, a pele ficava oleoso e infeccionava do dia para a noite, eu tinha ânsia de vômito e chorava porque mesmo com nojo sabia que teria que fazer e pensava que a dor dele era maior (estava em carne viva). Essas lesões apareceram em outras partes do corpo dele, mas insistimos no tratamento. Pouco a pouco os pelos foram crescendo e ele foi melhorando até se curar definitivamente.
Ele sempre foi muito inteligente: uma vez sentei à sua frente, o olhei bem nos olhos e disse: - Dá a patinha. E ele deu. Dias depois falei para ele deitar. E ele deitou. Não é um cachorro comum. O olhar dele era mágico. Decidimos ficar com ele e eu quis batizá-lo com o nome de São Francisco, mas é um nome grande para um cão, então pensei em nomes de anjos. Ariel, Gabriel, Ieiaiel...Pensei em São Miguel Arcanjo...o nome perfeito!!! Nome de santo e de anjo.
Hoje o Miguel só não tem pelo na cicatriz da pata e acima do olho esquerdo, que foi um corte também, o resto do corpo é bem peludinho! Todo loirinho. E ele é meu anjinho. Inteligente demais!!! Ele adora casquinha de pizza e pega no ar toda comida que atiramos. Ele adora truques!
A única parte dele que não mudou desde a primeira vez que o vi foi seu olhar. Ainda tem o olhar um pouco triste, mas é possível ver alegria, expectativa pra dar um passeio ou simplesmente felicidade por ser um cão saudável e bem cuidado.
Esta noite ele vai dormir de roupa nova: camuflada por fora e de pelúcia branca por dentro.
Um bom mascote.

Nenhum comentário:

Postar um comentário