Pablo Neruda

"Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo." - Pablo Neruda

domingo, 23 de dezembro de 2012

A grande fábrica de mentiras do Natal



Ainda lembro-me dos Natais de minha infância, onde a magia realmente existia nas cartinhas escritas ao papai Noel e nos presentes que surgiam ao lado das nossas camas na manhã do sai 25 de dezembro. Cheiro de boneca nova, da Laranjinha que não foi encontrada, da cascata do Pônei e do berçário do baby Pônei. Lembro claramente da manhã que encontrei uma caixa vermelha que continha o que eu queria: a ambulância do Dr. Saratudo. Essa lembrança voltou exatamente na semana em que vendi a ambulância que guardei por mais de 25 anos. Não havia mais espaço para a caixa vermelha em meu armário, nem utilidade para mim, só recordações de um tempo em que o espírito natalino existia, muito provavelmente, nutrido pelo consumismo, mas era bem divertido.

Num dos Natais seguintes, tive que ser muito forte e determinada quando deixei minha chupeta rosa transparente na árvore de Natal para o Papai Noel levá-la. Cheguei a combinar com meu pai que se eu a deixasse lá, ele pararia de fumar. Deixei o meu tão adorado vício naquela noite, mas meu pai ainda fuma cerca de três maços por dia. Não foi um bom acordo, é verdade.

Pouco tempo depois daquele Natal, descobri que tudo era uma grande mentira usada para chantagear as crianças, as “obrigando” a serem boazinhas em troca de presentes vindos do Pólo Norte. Foi uma decepção tão grande que hoje tenho pena das crianças que continuam sendo enganadas. É muito triste um adulto inteligente mentir descaradamente, mais ainda quando há crianças envolvidas.

A magia que existiu foi uma mentira contada coletivamente, que até hoje usa a inocência infantil para mover o mundo capitalista induzindo pessoas ao consumo desenfreado. Meu primeiro vício não prejudicou ninguém, nem entortou meus dentes. O abandonei com quase 7 anos e tenho tanta saudade daquele cheiro de borracha nova e da sensação que me proporcionava. Aquilo sim foi verdade. Uma verdade que acabou em um Natal infeliz.

Saudade da minha chupeta :(.


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